terça-feira, 3 de maio de 2011

Violão de doze cordas

"Depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível é a música". Aldous Huxley

Quando nascemos, antes mesmo de abrir os olhos entoamos nosso cântico de estréia. O choro, um pouco desafinado, é a música de entrada na vida.
Ao partir, já sem forças para cantar, o trompete canta, grita alto a música de adeus, afinado e fúnebre.

A música é um canal de comunicação, primeiramente horizontal, entre nós mortais, e vertical, pois possui a capacidade de conduzir ao divino e assim imortalizar-se. Platão defendia que algumas combinações musicais elevavam e outras animalizavam o homem.
Não há conhecimento de povos que não possuam manifestações musicais, seja para demonstrar sua força nas guerras ou sua alegria nas festas. A humanidade sempre encontrou na música a melhor forma de transparecer o mundo intangível dos sentimentos, assim tornou-se uma espécie de materialização da alma.

Lembrar de uma música nunca é apenas lembrar de uma combinação de sons, mas de épocas, sentimentos, histórias, sabores, cheiros, gestos...

Saber ouvir uma música é algo especial, mas construir, lapidar uma música é sublime.
Notas, acordes, tempo, compasso, pausa.
Grave, Largo, Lento, Adagio, Andante, Moderato, Allegretto, Allegro, Vivace, Presto, Prestissimo!

De todos os elementos, gosto da pausa. Ironicamente, silêncio é música.

Não sou musicista, a vida me escolheu e me brindou com alguma habilidade.
Há dez anos que as cordas me amarraram, quando tomo o violão junto ao corpo ele é parte de mim. Depois vem a arte de incorporar o sentimento de quem criou a música, letra e melodia, ou ainda materializar meus próprios sentimentos.

O músico faz com os sons o que o poeta faz com as palavras, ambos são amantes da instrospecção, dos momentos que partilham somente com seus instrumentos, violão ou caneta.
Leminski disse "...acordei bemol, tudo estava sustenido...". Não basta ter conhecimento musical para entender esta frase, é preciso viver a música. Bemol e sustenido na matemática musical são a mesma coisa, mas não para nós que provamos o outro lado da música. Se ele dissesse "...acordei meio para baixo, tudo estava meio para cima..." não seria poesia...

Harmonia é um elemento musical, é a combinação dos sons que formam um acorde. O músico ordena seus caóticos sentimentos por meio da criação musical, dá harmonia, materializa.

Se eu não posso chorar, eu busco a arte da música. Choro nos meus acordes, fico só com meus solos.
Se meus sentimentos são intangíveis, impossíveis e improváveis dou harmonia, realidade, vida.
Esse aço me mantém firme, machuca meus dedos, mas presenteia um som aberto, forte...Colérico.
Esse nylon me torna flexível, é delicado às mãos e aos ouvidos, cede, tem um som abafado, suave, doce... Melancólico.

Acho que sou um violão de doze cordas, metade aço, metade nylon.


Homenagem à pessoa que irá compreender profundamente este post.

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