terça-feira, 28 de junho de 2011

Paralelepípedo

Simplicidade.
Simples cidade.
Te encontro na quermesse, na singela alegria, na rima chorosa da música caipira.
A viola cantando as histórias do meu avô.

Perco meus passos e meu ritmo nas suas ruas de paralelepípedo.
E o fôlego eu perco nas tuas belezas, admiradas do alto, de cima da pedra.
Teu céu é mais estrelado, mais rosado e alaranjado, mais alegre, multicor na asa-delta que cruza o azul.
Teu céu tem mais sonhos, o teu norte mais futuro, mais direção.

A tua simplicidade tem o cheiro doce da panela apurando.
O sabor do morango maduro, o som do tambor do oriente e da desorientação do teu idioma.
Barulho de criança correndo, que vira música quando a saudade dá o tom.
Cheiro da chuva chegando, reiniciando o ciclo da água boa de beber.

Tua terra é tão sagrada e tão rica.
Volto às raízes quando os ventos querem me arrancar.
Teus bons ventos me ensinaram a usar o sopro para alçar meus vôos.
Como a cerejeira que se deixa ceder, pois conhece a profundidade e a firmeza de seu ser.

Simples cidade.
Meu lar, minha igreja.
Minha família, meus amigos, minha paz.
Meus sabores, meus cheiros, meus sons.
Minha cidade.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

De onde vem?

Há quem diga que é cíclico. Cinco ou sete dias do mês.
Ou ainda uma fase, dos quinze aos trinta, só no inverno ou nas primaveras...
Circo, birra, coisa que passa...
Sei e não sei de onde vem essa minha vontade de amar.

Meu primeiro amor: os cachos onde perdia meus dedos e os olhos azuis que eu mergulhava.
Devoto, eterno, sem limites. Amor só é amor se doa a vida, e foi de vocês que a recebi.
É tanto que nem sei entender.
Como a menina que ganha uma boneca maior que si; desengonçada não consegue brincar, senta a boneca na cama e brinca de silenciar.

Meu segundo primeiro amor: o próprio Amor.
Ele já me amava, sonhava meus sonhos.
Em sua figura feminina entendi que era eu quem devia sonhar os Seus, provando primeiramente o meu singelo amor.
Descobri o mistério do Amor, o sentir-se amada e, sem forças, não conseguir silenciar...

Meu terceiro primeiro amor: encontrar o Amor Maior nos valores e na vida que os cachos e os olhos azuis me ensinaram a viver.

Hoje vejo claramente que nasci para amar.
Busquei o Amor na Engenharia e o encontrei na entrega por um mundo melhor, pela água que gera vida, pelo solo que alimenta, pelo ar que nos mantém.
Também o encontrei em pedacinhos, dentro de cada um que se aproxima de mim. Estou atenciosamente colecionando, parte por parte, para completar.

sábado, 11 de junho de 2011

Fênix...A vida que vem da morte.

"É preciso morrer para renovar, é preciso morrer para renascer!". Blindes Fátima

Estou matando tudo que me mata pouco a pouco para me abrir a uma nova vida.
Já morri tantas vezes e sempre renasci; como a fênix que ressurge nas cinzas, quero deixar tudo o que é cinza para me colorir.
Tudo que é passageiro, tudo que dá adeus, o que é superficial, o que não é meu, o que me rouba de mim, o que me afasta da vida, o que acinzenta... Cinza, vai virar cinza.

Eu não tenho dúvidas da fecundidade que isso traz.
Um dia decidi ser semente, e a semente tem que morrer para gerar vida. E a vida veio, irrompeu. E é vida, é a minha vida.
E a vida é cheia de começos e fins, de morrer e renascer.

Não é a morte que me apaga, é tudo o que vai me matando sem que eu perceba.
Para ser tudo que quero tenho que morrer para tudo que me tornei sem querer ser.
Se quero ser os Seus sonhos, deixo morrer os meus. 
Se o coração me pediu, a vontade presenteio, de minha vontade. 

Estou nascendo, renascendo, renovando.
Não mais cinza, mas púrpura, alaranjada, azul, amarela...Incandescente.
Livre de tudo que me consumia, para livremente me consumir, arder por aquilo que vale a pena, valem as penas.

Excelsior!



terça-feira, 7 de junho de 2011

Milagre das mãos...

"...ah, como fizestes arder, fulgir, com o milagre das suas mãos!
E é, ainda, a vida que transfigura das tuas mãos nodosas...
Essa chama de vida - que transcende a própria vida...
e que os anjos, um dia, chamarão de alma". Mário Quintana

Os calos, a vida, a alma, o milagre...Vêm das mãos.
O que minhas mãos estão construindo?
Minhas mãos já tiveram o calo do lápis, calos de violão, bolhas e cortes por cozinhar para as pessoas que amo.
Minhas mãos já aliviaram dores e tensões, já apertaram forte outras mãos, conhecidas e desconhecidas.
Já limitei às minhas mãos a vontade do abraço, abraçando em um aperto de mão.
Através das minhas mãos surgiram imagens; fotos que imortalizaram a alegria, uma pintura do Manacá de Tarsila, o traçado com o giz no asfalto para o tapete de Corpus Christi...
Minhas mãos escreveram e reescreveram tantas cartas, enviadas ou não.
Escreveram nomes na carteira do colégio, no box do banheiro, na capa do caderno, nas confissões do diário...
Minhas mãos cantaram tudo o que minha voz não pode cantar.
Afagaram e consolaram quando não havia palavras.
Se estenderam em caridade, mas nunca o suficiente...
Minhas mãos encontraram a perfeita união, uma com a outra formando o necessário para a oração.

Mas...

Minhas mãos são limitadas se não encontram outras mãos.
Outras mãos que dividem o carinho e a alegria da refeição e do lavar a louça na água gelada.
Que também me acarinham, tiram o peso que as vezes carrego nos ombros, que se unem com as minhas para cantar e orar.
Mãos que me sustentaram com seus calos, com seu amor e doação...
Mãos que apertaram as minhas e não imaginam a força que me transmitiram.
Apertos de mão que sei que também eram abraços...
E as Suas mãos, que me mantém fiel, filial e forte.

E hoje uno minhas mãos por todas as mãos que passaram em minha vida, mãos que se encontram com as minhas e também as que se encontrarão.
Não se esqueçam que por nossas mãos podem acontecer milagres, em nossas mãos cabem almas, nossa alma, cabem corações, cabe vida.

E em Suas mãos cabe minha pequenez e minha vontade, que é infinita.

Pe. José Kentenich