sexta-feira, 29 de abril de 2011

A criação e o Criador

Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas". Romanos 1:20

Uma das certezas e alegrias da minha vida é que a criação revela o Criador. 
Assim como o artista revela toda sua emoção, sua alma na obra de arte, o Criador se apresenta nas mais belas e complexas formas da natureza.
Não somente o Criador, mas nós co-criadores também doamos algo de nós em tudo que criamos ou alteramos. 
Dominamos céu, terras e mares, submetemos a criação a nossos atributos.
O Criador é imensidão, diversidade, complexidade e equilíbrio.
Quais valores revelamos por meio de nossas obras?

Bem-aventurados os amantes da natureza, porque estes já viram e experimentaram um pouco de Deus!
Se as obras não estivessem presas a nossa visão limitada saberíamos que a vida que a água representa não cabe em um cano de PVC, que a diversidade não cabe na jaula, que o que é divino não tem nossa medida, que harmonia é liberdade e cuidado.

Em algum lugar, doce como o mel, um coração amargo buscava respostas, verdades. Angustiado, inquieto, inseguro.
Existe uma lógica? Providência ou destino? Remador ou marionete? E se não houver verdade?
E o bater das ondas foi como um sussurro chamando atenção para o mar; imensamente azul...
A Física, a Química e a Matemática explicariam tudo. Quantos metros cúbicos, a equação que regia o movimento das ondas, o azul, mas...E o inexplicável? Essa paz, esse abrigo, essa liberdade...
O coração sentiu-se pequeno...Pequenininho...Foi diminuindo...Virou gota.
Ficou doce.
E pequeno, doce, abrigado e livre na imensidão constatou: sim, Ele existe.

Quando vejo o sol se pondo e  iluminando as araucárias e os prédios, sutilmente convidando pássaros e homens a aninharem-se, meu coração se aperta pelos que não sentem-se parte, ignoram a responsabilidade de co-criar...
Ele, o Grande Artista, nos deu pincel e tinta nas mãos; seja Tarsila, Miró, Picasso! Não seja uma tela vazia, amarelada...Quais as suas melhores cores?



terça-feira, 26 de abril de 2011

O segredo, a caixa e a prece

"Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros...". Caio Fernando de Abreu

Sabe aquela caixinha no fundo da única gaveta chaveada da sua escrivaninha? O coração também tem uma.
De um lado: cartas de amor, de amizade, aquelas fotos de infância que ninguém (mesmo) pode ver.
Do outro: os olhares e o beijo atrás do colégio, as gargalhadas dos fiascos e bebedeiras. aquela saudade de um tempo que já foi, mas ainda guardo na minha caixinha particular (e secreta).

Meus segredos não são tão secretos, são quase presentes que revelo de tempos em tempos para quem merece guardá-los (ou dividir o fardo) comigo.
O que me é segredo, me é sagrado.

Escondemos o que nos envergonha, o que nos expõe, o que é mais nosso, o que é precioso...
Segredo não é falta de sinceridade nem confiança, é segredo (é sagrado).

Tem segredo que nem pra Deus eu conto; Ele sabe tudo, mas faz de conta que não sabe só pra alimentar essa minha necessidade de estar só com a minha linha do tempo.
Vou editando meu filme, corto a cena, câmera lenta, apago a luz, mais cor, solto aquela música de fundo... Fade-out pra finalizar e valorizar o cenário.

Voltando aos segredos.
Saint-Exupéry diz que "... em cada um de nós há um segredo, uma paisagem interior com planícies invioláveis, vales de silêncio e paraísos secretos...".
Prefiro a idéia de uma caixinha. Segredo é pequeno, espremidinho... Segredo espreme, aperta por si.
Tem segredo que a história todo mundo conhece, mas o que se passou no coração ninguém sabe. Quem dera ter perdido a chave da gaveta para nunca mais lembrar...
Quer pergunta mais infeliz que "tudo bem?" quando acabamos de guardar um segredo desses na caixinha?
- Com licença, me deixe a sós com minha caixinha de segredos, obrigada.

E assim vai, de segredo em segredo, até que a caixa encha o fardo, mas eu aguento mesmo cheia.


Esse segredo poderia ser meu, ficava tudo certo, podia ser coisa da minha cabeça, não da sua.
O filme da sua vida é tão mais bonito que o meu. Daqueles que a gente ri, chora e ainda fica pensando depois. 
A gente só permutava uma parte do roteiro, eu até gosto de drama.
Eu poderia guardar as quedas e tropeços na minha caixinha, bem guardadinhos.
Infelizmente é cada um com seus segredos...
Fica assim, o seu segredo também me espreme para não esmagar você; essa minha prece é meio segredo e muito sagrada, coisa minha e de Deus. A gente guarda tudo na caixinha e coloca lá no fundo, bem no fundo do coração...Feito?



domingo, 17 de abril de 2011

Sobrados

"Harmonia se opera com diversidade. Sintonia é sinfonia". Demétrio Sena

Olho aqueles sobrados, lado a lado, cor verde erva-doce, mas falta doce...Falta gosto...É tudo igual!
Antes era um beco, um fim de mundo, no fim ficou tudo no chão. Ficou um vazio, valorizou.

Depois  veio a fundação.
Antes, lá no beco, a vida não era fácil; muito ferro, pedras no caminho e os olhos cheios de areia...Precisa de algo mais concreto?
Esparramaram o concreto deles. Ah, fundaram!

E, tijolo por tijolo em um desenho lógico, foi-se a vida e vieram as paredes.
Infeliz engenharia, busca a lógica no óbvio, no igual.
O Engenheiro do mundo não planejou um piso frio e uma fachada monocromática.
O céu consegue ser diferente todo dia, isso é lógica.

No beco todo dia era diferente, cada semana uma parede nova, uma tinta, um lençol estendido colorindo o cenário. Não tinha casa verde erva-doce, mas não faltava doçura, não faltava tempero.
Tinha família de mãe solteira, pai solteiro, filho solteiro, vó e vô solteiro também.
Meia dúzia de carros parados na calçada, o fusca branco era o único que andava, estáticos, quase obras de arte.

Agora, nos sobrados, meia dúzia de gente igual, que pensa, ama e age igual.
Meia dúzia de carros iguais, indo aos mesmos lugares, educando seus filhos na lógica ilógica de um mundo monocromático.

Tenho saudade do beco, da harmonia desarmoniosa das cores e formatos, das crianças brincando, do velho pitando, da diversidade que se assemelha tanto com a grande obra do Engenheiro do mundo.

Por favor, não construam mais sobrados nem pessoas iguais, já estão sobrando.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Madrugada!

"O que há de mais tarde do que a madrugada?Não será a madrugada o alvorecer de um novo dia?". Sobreira

O dia traz tanta luz, tantos sons...Acordamos e dormimos sem ver ou escutar.

O corpo dos diurnos é tão limitado.
Estão treinados para ignorar a buzina, a propaganda que a rua oferece, anestesiados não sentem os esbarrões em meio à correria. Estão embriagados. Beberam pressa, comeram o relógio, estão saciados de cobranças.
E o coração? Ulcerou... A frieza corroeu um pedacinho todo dia. 
Olhos, ouvidos, boca e mãos são insensíveis, indolores aos que pedem por gentileza um momento de atenção, um pedaço de pão, um trocado para a pinga (estes não querem se embriagar com pressa).
Fechados em uma sala, quadrada e sem janelas à sua imagem e semelhança, ignoram o nascer e o pôr-do-sol.
Limitados e quadrados, como a televisão que os espera depois do dia de trabalho (será que fez sol ou choveu hoje?).
Bom dia e boa noite para o chefe, afinal ele está acima de todas as outras pessoas que cruzaram seu caminho neste dia de clima incógnito. Aos vencedores as batatas e as gentilezas.
Almoço: comida no microondas, que à sua imagem e semelhança tem a capacidade de murchar as coisas. E é quadrado.
Jantar: televisão, enquanto mastigam algo sem importância.
Deitar, rezar um mantra do sono (qualquer oração, afinal são apenas palavras que repetidas várias vezes trarão o abençoado sono). Sono.
Pi pi pi pi. Pi pi pi pi. Pi pi pi pi.
Bom dia (chefe, claro).

Por isso eu amo as madrugadas.

Também amo o dia, aprendi a gostar de dar bom dia e, mesmo sem ter uma janela, sentir que o sol se põe.
Gostar do colorido do prato e no jantar também provar da companhia e do carinho das mãos que preparam o alimento. 
De dia a face que encontrei nos meus sonhos se apresenta pedindo pão. 
Antes de dormir, obrigada Deus! Que cada pulsar deste coração seja um louvor de gratidão e que meu espírito não adormeça.

Enfim, as madrugadas!
O som da minha respiração, o barulho dos meus pensamentos, a presença dos indormíveis e a luz que a lua rouba para nos presentear (ilegalmente entrando pela fresta do blackout).
A sutileza ao andar ou abrir a porta (a diurna precisa dormir, mas essa diurna não é quadrada). 
Sentir o vento e o frio (principalmente aqui nas terras geladas onde venta mesmo com janelas fechadas). 
Mesmo as dores doem mais de madrugada (a ausência, a distância, a limitação e as cólicas).
A madrugada embriaga:o medo, este mal lembra quem é. 
De madrugada posso pensar o que quero, ilimitadamente. Posso até falar (ou escrever, azar dos que lêem depois).

No escuro não sou míope.

De madrugada posso tão pouco e posso tanto, então não sei o que é limite.

domingo, 10 de abril de 2011

Vive quem ousadamente vive!

"Seja qual for seu sonho, comece. Ousadia tem genialidade, poder e magia". Goethe

A palavra ousadia em um primeiro momento pode soar negativamente aos ouvidos, sua origem do latim audere carrega o sentido de atrevimento ou audácia, algo inconseqüente.

Há alguns anos tenho explorado a ousadia; em 2008 pedi que traduzissem "santa ousadia" para o latim e a tradutora (muito sábia) aconselhou que ao invés de sancta audere eu adotasse sancta magni animi, termo que remete à grande alma.

Por que ousar?
Particularmente, atribuo à palavra ousadia outras três: coragem, confiança e atitude positiva (lembrando que palavras sem gestos não edificam).
Só a coragem não basta; coragem carrega um pouco de orgulho, de auto-suficiência, remar o barco sozinho o fará girar em torno de si.
Só confiança não basta; neste caso falo de confiar no outro, viver traz responsabilidades e se estamos em dois no barco e apenas um rema, não há confiança que mude o cenário do remador corajoso, navegaremos em círculos.
Só atitude positiva não basta; o mar sozinho pode te levar a algum lugar, mas não ao seu destino (seu objetivo, seu ideal).

O remador ousado é corajoso, sabe onde quer chegar e continuamente se prepara para alcançar seu destino. Sabe que não está só, confia no outro e isso o motiva; ele sabe onde quer chegar, mas também tem a responsabilidade de levar alguém. O remador é convicto de que escolheu o melhor momento para navegar, ele conhece o mar e o mar o conhece; o mar pode surpreendê-lo com algumas tempestades, mas o remador ousado sabe que logo virão bons tempos, acredita na vitória.

Que tipo de remador sou?
O mar é a vida.
O destino são nossos sonhos, nossos objetivos. Trabalhamos arduamente para conquistar nossos ideais ou são apenas idéias vagas, palavras bonitas?
O outro remador são as pessoas que fazem parte de nossa vida, que temos a responsabilidade de conduzir e deixar-nos conduzir. O outro remador também é Deus; Ele também quer remar! Sou orgulhoso e quero conduzir minha vida sozinho ou permito que Deus também a conduza?
É importante ter convicção ao tomar decisões em nossas vidas. O melhor momento implica em esperar as vezes, e esperar também é transformar sonhos em realidade. Conhecer o mar é conhecer a vida, observar, experimentar... O interior reflete no exterior (e vice-versa)  e qualquer manifestação de vida interfere ou é fruto do que acontece no macro universo e no micro universo.
A prova de fogo da ousadia é nos momentos de dificuldades, onde a atitude positiva é essencial. Reclamar, resmungar, colocar a culpa no outro ou na vida nunca resolveram problemas; essa atitude positiva também chamamos de fé, alegria de viver e até good vibes.
O mar acalma, a vida muda, como aproveitamos nosso tempo?

Grandes almas ousam e suportam as conseqüências.
Sempre lembro da passagem bíblica de Verônica, que ao ver Jesus caído foi ao seu encontro para enxugar seu rosto. Uma mulher, um lenço e a santa ousadia. Ela era mulher, não tinha direitos, estava ajudando um condenado, burlou os guardas... Porque se ele iria morrer? Ela sabia que precisava fazer aquilo, criou coragem, confiou, sobretudo porque mesmo sem ter consciência sentia que depois da tempestade viria a calmaria. A recompensa ficou estampada no lenço, ali Verônica entendeu que o ideal de sua vida se cumpriu naquele momento.

O amor motiva a viver ousadamente, o amor é a força que move o mundo.


quarta-feira, 6 de abril de 2011

Solidariedade de destinos!

"Si amo a una persona, amo a Dios en esa persona". José Kentenich

Quantas pessoas marcaram sua vida?
Os amigos do colégio, das brincadeiras de rua, colegas de faculdade e de trabalho, amigos que fizemos no ônibus, namorados, família...
Como é bom lembrar daqueles que deixaram um pouco de si em nossa história e assim construíram esse mosaico de impressões, sentimentos, lembranças e decisões que somos.
Gosto da frase "...a saudade é um lugar que só chega quem amou..."; mais que momentos, fases, etapas, ciclos e épocas, amamos as pessoas (e seus respectivos mosaicos).

Por que pessoas?
Fomos criados à imagem e semelhança de Deus, e o amor e a capacidade de amar é que nos une e assemelha. Se sou capaz de amar é porque experimentei o amor, porque sou amado, porque encontro uma centelha de Deus no outro, pois Ele é o Amor.

Nós também abrigamos esta centelha em nosso ser; é uma força que move, obriga...E obriga porque somos responsáveis pelo que cativamos! Chamamos carinhosamente esta feliz obrigação de solidariedade de destinos.

Essa mútua responsabilidade é o reconhecer o que representamos na vida das pessoas, reconhecer que Deus age em nós e por nós, através da capacidade de amar. Não falo de religiosidade, de abraçar desconhecidos ou dizer "te amo" para qualquer pessoa, mas de fortalecer vínculos, de doar-se, de ser instrumento, dar sentido à nossa existência.

Nietzsche diz que "quem tem por que viver, aguenta quase todo como".
E porque não viver por esta centelha de Deus que está no outro?
Viver pelo outro, ser todo o outro, exige. Afinal um mosaico não é um quebra-cabeças que formará uma imagem perfeita ao fim, mas uma coletânea de pequenos pedaços diferentes, quebrados, coloridos, imperfeitos e que unidos se assemelharão à imagem idealizada.
Assim como nós, com nossos pedacinhos imperfeitos nos assemelhamos a Deus.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Chá de alecrim?

Sim, chá de alecrim! 
Vocês podem ter pensado que é alucinógeno, mas não é.
O nome do blog é "Meu chá de alecrim" pelos muitos chás de alecrim saboreados nesta vida.
O alecrim tem propriedades calmantes e nos dias de estresse físico e mental, antes mesmo que eu pudesse reclamar, minha mãe sempre aparecia com um chá de alecrim...


Certa vez li que o alecrim é a erva da coragem e também que sua origem etmológica está relacionada à alegria; juntando tudo isso nasceu o nome do blog, que espero que seja calma, coragem e alegria, para mim e para os que partilham esta caneca de chá.


A vida é uma chaleira fervendo, apitando, esperando...O chá é você quem escolhe. Qual o sabor da sua vida?