terça-feira, 12 de julho de 2011

O lado doce da (minha) vida!

Fui convidada a fazer a sociedade a pensar um pouco sobre uma esperança, uma vontade, um desafio: a cura do diabetes.

Você acredita na cura do diabetes? Você acha que existe uma pressão da indústria farmacêutica contra a cura, por se tratar da doença que gera mais lucro para os laboratórios? Ou isso é somente uma teoria conspiratória? Como seria sua vida sem o diabetes, já imaginou?


Não vou me aprofundar no que é o diabetes, podem encontrar informações no site da Sociedade Brasileira de Diabetes.
É uma doença auto-imune onde as células beta do pâncreas (produtoras de insulina) são destruídas pelo próprio corpo. A insulina é importante para que a glicose (sim, podemos chamar de açúcar) consiga chegar às células para ser transformada em energia! Sem insulina a glicose  se acumula no sangue e isso pode gerar uma série de complicações.
O usual é que o diabético monitore sua glicemia (taxa de glicose no sangue) através de um teste chamado dextro (todo dia e várias vezes ao dia) e utilize a insulina exógena, por meio de seringas, canetas ou bombas (Sistema de Infusão Contínua). Além disso é importante a realização de exames frequentes (ligados à visão, rins, circulação, entre outros), uma dieta adequada e a prática de exercícios físicos.

Olhando assim parece simples, mas o sobe e desce da glicemia nos deixa mais nervosos que montanha russa! Para um adulto entender que deve controlar doces, levar picadas e ainda assim passar mal as vezes é difícil, mas para uma criança é um pecado. No caso de hipoglicemia (pouca glicose no sangue) os sintomas são tremores, sudorese, indisposição, alteração do humor, medo de morrer, confusão, delírio, dificuldades na fala, convulsão, coma...E no caso da hiperglicemia (excesso de glicose no sangue) poliúria (excesso de urina), sede que não passa, cansaço, náuseas, vômitos, coma. O maior problema dessas alterações é que a longo prazo podem trazer sequelas gravíssimas para o diabético, como a perda da visão, de membros, complicações nos rins, etc.

Descobri que era diabética em dezembro de 1994, fiz sete anos em janeiro de 1995, quando entrei na primeira série do colégio. Muitas mudanças para uma cabecinha...
Lembro de experimentar  adoçante (urgh!), mas não me importar muito. Algumas idas ao médico, a rotina com as picadas, nada que tenha me abalado.
Primeiro dia de aula: um mundo novo para descobrir. Segundo dia de aula: hipoglicemia. Terceiro dia de aula: reunião da professora com os colegas sobre meu diabetes e a orientação de que eu não podia comer doces. Quarto dia de aula: decisão de não comentar com ninguém sobre o diabetes.
E assim foram dez anos de negação da doença,todos os anos os médicos diziam "em cinco anos virá a cura"; e até hoje em cinco anos virá a cura.
Fui uma criança, adolescente e jovem rebelde quanto à isso, nem meus melhores amigos sabiam do diabetes, era algo muito, muito, muito particular, que até eu fazia questão de esquecer. Quando ouvia falar de diabetes na aula suava frio, tremia com medo de alguém dizer "a Roberta é diabética!".
Morei com meus pais até os dezenove anos, traumatizei a família inteira com algumas crises de hipoglicemia, convulsões que por pouco não me levaram embora... Por um momento achei que estava condenada a sempre ter que morar com alguém cuidando de mim, observando meu sono, me socorrendo...
E livre como sou, decidi sair de casa.
Há cinco anos moro sozinha, há 500 km da cidade da minha família. Um choque no começo, principalmente para minha mãe super coruja que sempre cuidou de mim com tanta dedicação e desespero. Eu entendo que amor possa sufocar as vezes, e acontecia... Já comeu?Já tomou insulina?Você tem que fazer dextro!Você tem que caminhar!Você tem que...Você tem que...Você tem que...
Cidade nova, vida nova! Comecei a aceitar minha condição, eu não PODIA passar mal, senão seria carregada de volta pra casa. E assim estou até hoje.
Passei por algumas situações, mas vou contar duas (as piores), uma de hipo e outra de hiperglicemia. Um dia eu não estava bem do estômago e não havia me alimentado direito, resultado (lógico): hipoglicemia. Estava sozinha no apartamento e por mais que eu tentasse comer doce de leite, água com açúcar, vomitava tudo. Tentei muitas vezes comer e não tinha lucidez para ir até um vizinho ou algo assim, chorei, rezei e dormi. Por algum milagre estou aqui. A outra foi na minha formatura, pelo nervosismo do momento entrei em hiperglicemia (sim, emoção também aumenta a glicemia!), vomitei três vezes antes de entrar no teatro, garganta seca, visão turva, nem sei como consegui balançar o canudo e ler a homenagem aos mestres; não pude comer no meu jantar e por Deus não morri, de verdade e sem exageros.

As pessoas sempre fazem cara de dó quando descobrem que sou diabética. Sinceramente? Não me importo com nada do que vivo, mas dou tudo para que meus filhos (e seus filhos) não passem pelo que passei.
Se eu sofri e me privei de coisas da vida? Sim, muitas. E quem me conhece (bem de pertinho) sabe quais foram e o impacto que causaram em minha vida. Caminhos de Deus.
Tenho o lema "prefiro viver feliz por sessenta anos do que triste por oitenta". Não vou dizer que tenho um controle maravilhoso e nem esporte eu pratico; não passo vontades, geralmente não deixo de aproveitar a vida por causa do diabetes.

Coca Zero ou Coca normal? Coca anormal (Zero) porque eu gosto. E se formos classificar tudo em normal ou anormal, muita gente se surpreende...

Essa sou eu e meu lado doce da vida.

O outro lado do problema é que a indústria envolvida com o diabetes gera muito lucro. 12% do Brasil é diabético, e metade disso não sabe que é. O diabetes está na lista das cinco doenças que mais matam no mundo. A doença já era conhecida no século II e em 1921 a insulina foi descoberta, e desde então seus efeitos e formas de aplicação são melhorados. Atualmente existe a possibilidade do transplante das ilhotas produtoras de insulina, mas para cada transplante são necessários três cadáveres, o que o torna quase inviável.

Há tanta informação sobre diabetes e até hoje não chegamos perto da cura. Onde está o problema? Somos forçados a suspeitar da indústria, somos escravos dos remédios e insumos, linhas de produtos diet, entre outros... Movimentamos muito dinheiro! Será que isso é motivo para adiar? Será que nosso sonhos são vendidos dessa forma? Quantas crianças, jovens, adultos e idosos têm que sofrer privações, desilusões, exclusão, injustiça...

Se eu imagino minha vida sem o diabetes? Não sou tão criativa assim.
Se sou feliz? Muito.
Só que peço é que ninguém sofra comigo as consequências do diabetes, que eu não precise ser conduzida pela falta de visão ou empurrada em uma cadeira de rodas. Que essa anormalidade seja encarada com respeito e de forma humana; não é uma questão de Coca Zero ou Coca normal...

- Por favor, uma coxinha e uma Coca-Cola Zero.
- Olha lá, comendo coxinha e tomando refrigerante zero, de que adianta?Tsc, tsc, tsc.

- Adoro maçã.
- Maçã não é doce?Você não pode comer!







14 de Julho - Todos pela cura do diabetes!

4 comentários:

  1. Fantástico e ao mesmo tempo triste. É dificil aceitar que um diagnostico de uma doença crônica deixa de ser feito em virtude do alto custo que gera pro governo o tratamento desta pessoa. E é dificil entender que se esta pessoa está em tratamento, gera lucro, e com isto a cura fica mais longe. Todos pela dignidade no mundo...
    Te amo amiga querida, conte comigo.

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  2. Haa amiga vc e esse seu dom de escrever...me emocionei com suas palavras.!
    Amo te.!

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  3. Ahhh... Robert!
    agora posso comprar a tortinha pra vc, sem peso na consciência!!! hahah
    lindo texto... Parabéns! =]

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