terça-feira, 26 de abril de 2011

O segredo, a caixa e a prece

"Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros...". Caio Fernando de Abreu

Sabe aquela caixinha no fundo da única gaveta chaveada da sua escrivaninha? O coração também tem uma.
De um lado: cartas de amor, de amizade, aquelas fotos de infância que ninguém (mesmo) pode ver.
Do outro: os olhares e o beijo atrás do colégio, as gargalhadas dos fiascos e bebedeiras. aquela saudade de um tempo que já foi, mas ainda guardo na minha caixinha particular (e secreta).

Meus segredos não são tão secretos, são quase presentes que revelo de tempos em tempos para quem merece guardá-los (ou dividir o fardo) comigo.
O que me é segredo, me é sagrado.

Escondemos o que nos envergonha, o que nos expõe, o que é mais nosso, o que é precioso...
Segredo não é falta de sinceridade nem confiança, é segredo (é sagrado).

Tem segredo que nem pra Deus eu conto; Ele sabe tudo, mas faz de conta que não sabe só pra alimentar essa minha necessidade de estar só com a minha linha do tempo.
Vou editando meu filme, corto a cena, câmera lenta, apago a luz, mais cor, solto aquela música de fundo... Fade-out pra finalizar e valorizar o cenário.

Voltando aos segredos.
Saint-Exupéry diz que "... em cada um de nós há um segredo, uma paisagem interior com planícies invioláveis, vales de silêncio e paraísos secretos...".
Prefiro a idéia de uma caixinha. Segredo é pequeno, espremidinho... Segredo espreme, aperta por si.
Tem segredo que a história todo mundo conhece, mas o que se passou no coração ninguém sabe. Quem dera ter perdido a chave da gaveta para nunca mais lembrar...
Quer pergunta mais infeliz que "tudo bem?" quando acabamos de guardar um segredo desses na caixinha?
- Com licença, me deixe a sós com minha caixinha de segredos, obrigada.

E assim vai, de segredo em segredo, até que a caixa encha o fardo, mas eu aguento mesmo cheia.


Esse segredo poderia ser meu, ficava tudo certo, podia ser coisa da minha cabeça, não da sua.
O filme da sua vida é tão mais bonito que o meu. Daqueles que a gente ri, chora e ainda fica pensando depois. 
A gente só permutava uma parte do roteiro, eu até gosto de drama.
Eu poderia guardar as quedas e tropeços na minha caixinha, bem guardadinhos.
Infelizmente é cada um com seus segredos...
Fica assim, o seu segredo também me espreme para não esmagar você; essa minha prece é meio segredo e muito sagrada, coisa minha e de Deus. A gente guarda tudo na caixinha e coloca lá no fundo, bem no fundo do coração...Feito?



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