quarta-feira, 13 de abril de 2011

Madrugada!

"O que há de mais tarde do que a madrugada?Não será a madrugada o alvorecer de um novo dia?". Sobreira

O dia traz tanta luz, tantos sons...Acordamos e dormimos sem ver ou escutar.

O corpo dos diurnos é tão limitado.
Estão treinados para ignorar a buzina, a propaganda que a rua oferece, anestesiados não sentem os esbarrões em meio à correria. Estão embriagados. Beberam pressa, comeram o relógio, estão saciados de cobranças.
E o coração? Ulcerou... A frieza corroeu um pedacinho todo dia. 
Olhos, ouvidos, boca e mãos são insensíveis, indolores aos que pedem por gentileza um momento de atenção, um pedaço de pão, um trocado para a pinga (estes não querem se embriagar com pressa).
Fechados em uma sala, quadrada e sem janelas à sua imagem e semelhança, ignoram o nascer e o pôr-do-sol.
Limitados e quadrados, como a televisão que os espera depois do dia de trabalho (será que fez sol ou choveu hoje?).
Bom dia e boa noite para o chefe, afinal ele está acima de todas as outras pessoas que cruzaram seu caminho neste dia de clima incógnito. Aos vencedores as batatas e as gentilezas.
Almoço: comida no microondas, que à sua imagem e semelhança tem a capacidade de murchar as coisas. E é quadrado.
Jantar: televisão, enquanto mastigam algo sem importância.
Deitar, rezar um mantra do sono (qualquer oração, afinal são apenas palavras que repetidas várias vezes trarão o abençoado sono). Sono.
Pi pi pi pi. Pi pi pi pi. Pi pi pi pi.
Bom dia (chefe, claro).

Por isso eu amo as madrugadas.

Também amo o dia, aprendi a gostar de dar bom dia e, mesmo sem ter uma janela, sentir que o sol se põe.
Gostar do colorido do prato e no jantar também provar da companhia e do carinho das mãos que preparam o alimento. 
De dia a face que encontrei nos meus sonhos se apresenta pedindo pão. 
Antes de dormir, obrigada Deus! Que cada pulsar deste coração seja um louvor de gratidão e que meu espírito não adormeça.

Enfim, as madrugadas!
O som da minha respiração, o barulho dos meus pensamentos, a presença dos indormíveis e a luz que a lua rouba para nos presentear (ilegalmente entrando pela fresta do blackout).
A sutileza ao andar ou abrir a porta (a diurna precisa dormir, mas essa diurna não é quadrada). 
Sentir o vento e o frio (principalmente aqui nas terras geladas onde venta mesmo com janelas fechadas). 
Mesmo as dores doem mais de madrugada (a ausência, a distância, a limitação e as cólicas).
A madrugada embriaga:o medo, este mal lembra quem é. 
De madrugada posso pensar o que quero, ilimitadamente. Posso até falar (ou escrever, azar dos que lêem depois).

No escuro não sou míope.

De madrugada posso tão pouco e posso tanto, então não sei o que é limite.

3 comentários:

  1. vc precisa sair de curitiba... e vir pra italia!
    italia é madrugada de dia! vem vem vemm

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  2. Você é infinita sim ... sempre admirei esses seus sentimentos em relação à madrugada...rs, agora consigo entendê-los um pouco mais ...
    Beijo querida!

    Adicionei seu blog na minha lista de favoritos lá no meu canto!

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